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Do outro lado do monte

by DiscDiz

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1.
No alto daquela serra no alto daquela serra está um lenço está um lenço a acenar Dizendo viva quem ama Dizendo viva quem ama morra quem morra quem não sabe amar Do outro lado do monte do outro lado do monte tem meu pai tem meu pai um castanheiro Dá castanhas em outubro Dá castanhas em outubro uvas brancas uvas brancas em janeiro No alto daquela serra no alto daquela serra está um lenço está um lenço de mil cores Dizendo viva quem ama Dizendo viva quem ama morra quem morra quem não tem amores No alto daquela serra no alto daquela serra está um lenço está um lenço a acenar Dizendo viva quem ama Dizendo viva quem ama morra quem morra quem não sabe amar
2.
O céu, a terra, o vento sossegado; Um rumor triste as ondas que se estendem pela areia; vago, brando o noturno silêncio repousado… À hora, à hora da meia noite que apavora Ninguém lhe fala. O mar, de longe, bate; à hora da meia noite que apavora Move-se brandamente o arvoredo… acho a noite somente Leva-lhe o vento a voz, Somente a noite e nada mais que ao vento deita. Viu as lágrimas em fio Somente a noite viu as palavras magoadas nada mais Na maior pressa de mar, de fogo e de ira, Comigo levo esta alma, que se obriga, sonho a dar-vos memória sonho e que suspira o que nenhum mortal há já sonhado. Obra do vento e nada mais O rouco som do mar, Somente a noite e nada mais a estranha terra, O esconder do sol pelos outeiros Regressa ao temporal Perder-me assim em vosso esquecimento Regressa à tua noite ser por vós perdido que me amedronta que me assombra O céu, No chão se espraia a triste sombra a terra, foi isso apenas o vento sossegado; nada mais as ondas que se estendem pela areia; somente a noite e nada mais o noturno silêncio obra do vento repousado… nada mais
3.
Manolo mío, a mí me han dicho que por tres meses te bas d’aqui eses tres meses serán tres siglos Manolo mío llévame a mí. (BIS) Lolita mía ponte a servir Y lo que ganes dámelo a mi Pera tabaco, pera papellos Pera cerillas pera acender (bis) Naquel cabezo hay un cadabré Todos dicen, de quién será? Seguramente será Manolo que se habrá muerto de soledá... (BIS)
4.
Ó minha mãe dos trabalhos Ó minha mãe dos trabalhos Para quem trabalho eu, oai, Para quem trabalho eu? Trabalho, mato o meu corpo, Trabalho, mato o meu corpo, Não tenho nada de meu, oai, Para quem trabalho eu? Diz-me lá, patrão António, Diz-me lá, patrão António, Que triste pensar o teu, oai, Que triste pensar o teu? Se não mudares de sentido, Se não mudares de sentido, Morres tu e morro eu, oai, Que triste pensar o teu? Ó minha mãe dos trabalhos Ó minha mãe dos trabalhos Para quem trabalho eu, oai, Para quem trabalho eu?
5.
Era uma vez um velho pastor que pastava, com a sua mulher, um grande rebanho, na planície do outro lado da ilha. Foi um tempo branco Mais doloroso do que os olhos sempre abertos no escuro Estava tudo pronto para a chegada da Primavera quando, inesperadamente, começou a nevar durante a noite. Nevou durante dois dias. As ovelhas berravam em desespero. Um tempo branco muito diferente da verdade. Quando o casal conseguiu, finalmente, sair do abrigo para procurar as ovelhas… só encontrou cadáveres. Muito diferente das estrelas que se apagam. Enlouquecidos, recolheram os badalos, enrolaram-nos em cordas à volta da cintura e desceram ao povoado para contar a desgraça. Foi um tempo branco porque era mudo. Mas quando chegaram à vila não conseguiram explicar o que lhes aconteceu, as palavras não lhes saíam, a voz entaramelava-se na garganta. Em desespero gesticulavam, exprimindo a sua dor e tentando explicar o sucedido… mas no povoado ninguém os compreendeu, deram-lhes de beber e acompanharam-nos numa dança grotesca. Um tempo tão manso como um lobo que não morde. Estonteados de cansaço, os pastores caíram exaustos no chão. Só dias mais tarde iriam os camponeses dar pelo desastre! Foi nos dias em que vieram as montanhas Foi nos dias em que vieram as montanhas Os velhos pais labutavam nos campos Quebravam as pedras arrancavam a erva selvagem Foi nos dias Foi nos dias Foi nos dias em que vieram as montanhas Trabalhosos dias. A tua lenha é só peso que levas. E os olhos não choram É uma grande tarefa E as mãos tecem Um trabalho sem fim Um trabalho… sonâmbulo Pesados são os montes Chegou um tempo em que não adianta morrer. Pesados são os mares Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
6.
Este linho é mourisco e a fita dele namora quem daqui não tem amores tira o chapéu vá-se embora Ai-a-li-o-lai-o-lai-lalolé lai-a-ró meu bem regala-te o meu amor regala-te e passa bem O minha mãe dos trabalhos para quem trabalho eu trabalho mato meu corpo não tenho nada de meu Maçadeiras lá de baixo maçai o meu linho bem não olheis para o portelo que a merenda logo vem Ai-a-li-o-lai-o-lai-lalolé lai-a-ró meu bem regala-te o meu amor regala-te e passa bem
7.
Por riba se ceifa o pão ai, por baixo fica o restolho menina não se enamora ai do rapaz que embisga o olho Já o sol se vai pondo ai, lá pra trás do cabecinho bem pudera o nosso amo ai mandá-lo mais ligeirinho
8.
O tempo para a sementeira do trigo é o outono, quando as folhas começam a cair. Repousa sobre o trigo um sol parado A cama de trigo faz-se na lama, a do centeio no pó. sobre o trigo que ondula A quantidade da semente depende da qualidade da terra, um sol parado Depois de semeado é preciso que fique enterrado O trigo mexe leve, para poder arraizar, e o não comerem os pássaros Mexe leve, ao sol alheio e igual basta que fique coberto com dois ou três dedos de terra. Deixa que pelo prado os ventos vão A ceifa faz-se em julho e agosto; Baila o trigo quando há vento convém apressá-la Baila porque o vento o toca o mais que poder ser. É tempo, é tempo, foi muito grande o Verão A época de trabalho mais intenso é a que vai de meados de Julho a meados de Agosto. Rude era o chão Agreste e longo aquele dia Todos trabalham de manhã É tempo, é tempo pela noite adiante É tempo, é tempo neste pobre lugar Souberam resistir, souberam resistir aos temporais e aos sóis Todos, homens e mulheres, aos temporais e aos sóis velhos e crianças, Deixa que pelo prado os ventos vão O trigo é arrancado à mão, É tempo, é tempo espiga por espiga, como quem está a pescar. É tempo, é tempo O trigo não vai ao chão. Fica seguro na mão, depois de sacudido e amarrado todos entregam o seu feixe para com ele fazer uma "gavela maior". Senhor: é tempo. foi muito grande o verão. Lança a tua sombra sobre os relógios de sol, deixa que pelo prado os ventos vão. Amo os que atravessaram os campos desamparados mais do que se pode entregues como este verão já no fim às folhas secas que voam É tempo. foi muito grande o verão. Quem não tem casa agora, já não constrói nenhuma, quem agora está só, vai ficar só, sombrio Estas folhas estremecem na tarde, não sabem que dançam à roda do Universo.
9.
Venho de macelada, venho de colher macela Lá dos campos do Castelo, daquela mais amarela Venho de macelada, venho de macelada Ai lai rai... Venho de macelada, venho de colher uma flor Lá dos campos do Castelo, para dar ao meu amor Venho de macelada, venho de macelada Ai lai rai... Venho de macelada, venho de colher um cravo Lá dos campos do Castelo, para dar ao namorado Venho de macelada, venho de macelada Ai lai rai... Venho de macelada, venho de colher loureiro Lá dos campos do Castelo, daquele mais ramalheiro Venho de macelada, venho de macelada Ai lai rai...
10.
Fraile cornudo, Hecha-te al baile, Que te quiero ber beilar, Saltar i brincar, I andar por el aire. Y esta es la Tonadica del fraile! Busca companha, Que te quiero ber beilar, Saltar i brincar I andar por el aire. Y esta es la Tonadica del fraile! Deixa-la sola Que la quiero ber beilar, Saltar i brincar I andar por el aire! Y esta es la Tonadica del fraile!
11.
Na luz animal da alegria, encho as mãos, danço a dança prodigiosa. É um pomar de espuma que inunda, incendeia, recomeça um pomar que incendeia inunda recomeça um ruído de festa um carnaval de cor e poeira. incendeia, recomeça inunda Na imensa noite não desafies a alegria não lhe perguntes porquê, porque eu venho do silêncio incerto do poema e sou, umas vezes constelação e outras vezes árvore. Na imensa noite, do outro lado do monte, vejo a lâmpada da casa na encosta, árvores cheirando a verde. Na imensa noite, do outro lado do monte, encho as mãos com uma fragilidade que é um pássaro sábio, distraído. Na noite que trepa aos montes, suspenso no silêncio, um homem olha o céu, ouve ao longe o tilintar de guizos, olha o céu e diz-se o silêncio. Não desafies a alegria. Não desafies a alegria Pois, fria e imutável é a nossa eterna existência frio e resplandecente é o nosso eterno riso Quando ontem adormeci havia alegria vozes, cantigas e risos ao pé das fogueiras acesas. Agora os montes descem vagarosamente para o rio, para o mar, para a cidade. Levantam-se os perfumes, os incensos e as multidões de estrelas que se acendem. Sou um navio que chegou a um porto e cujo movimento é ali estar Nada me resta do que quis ou achei Cheguei da festa indiferente a quem sou e só não me cansa o que a brisa me traz. Escuto na palavra a festa do silêncio tudo está no seu sítio é um pomar de espuma, que incendeia, inunda, recomeça. Dança… a dança prodigiosa A noite cai, escondendo o último ser vivo. Pássaros já sem a curiosidade própria dos pássaros deixam de voar. A dança acabou.
12.
Ó entrudo, ó entrudo Ó entrudo chocalheiro Que não deixas assentar As mocinhas ao soleiro Eu quero ir para o monte (bis) Que no monte é que estou bem (bis) Eu quero ir para o monte (bis) Onde não veja ninguém, que no monte é que estou bem Estas casas são caiadas (bis) Quem seria a caiadeira (bis) Foi o noivo mais a noiva (bis) Com o ramo de laranjeira, quem seria a caiadeira

about

Vamos em transumância por serras e montes, ouvindo ao longe o “tilintar de guizos”, guiados pela “luz da casa na encosta”, pelo trinar de pássaros “sábios e distraídos”, pelo sussurro das ervas que nas suas raízes crescem e no bailar do vento se movem.

De pés fincados na tradição, por escarpas afiadas e trilhos antigos nos vamos, celebrando uma liturgia de renovação e passagem, até ao outro lado do monte, para ver “o que ainda não somos”.

Num eterno ciclo de transições, convidamos a seguirem-nos pelos terrenos acidentados dos amores ausentes e da eterna luta pelo pão, a deixarmos o sol que se vai pondo “por trás do cabecinho” e acendermos as fogueiras da folia, numa nova encosta de onde espreitam as “multidões de estrelas que se acendem” e onde saberemos “dançar à roda do Universo”.

www.etsy.com/listing/1244806746/do-outro-lado-do-monte-booklet-e-cd

credits

released November 28, 2019

Concepção e produção: DiscDiz

Arranjos e co-produção: Fernando Matias e João Menor

Gravação e mistura: Fernando Matias

Vozes: Luís Martins e Helena Patrício (DiscDiz)

Guitarra portuguesa, cavaquinho e guitarra clássica: João Menor

Percussão: Tânia Lopes

Instrumentais gentilmente cedidos por: Sangre de Muerdago, J.A. e Luís Antero

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DiscDiz Lisbon, Portugal

“Quando eu vir vaguear por dentro da casa
o abeto que cresceu no bosque,
hei-de ajoelhar no soalho.

Se essa figura imponente, a árvore, me reconhecer,
vou interromper o que escrevo,
esperar ansiosa a atracção que a insónia desse vulto
há-de exercer sobre mim.

Sou eu que me vergo ao domínio.
Que me poise a marca incandescente na testa. “

Fiama Hasse Pais Brandão
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